Confessou-me ainda:
"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas
palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe
adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores ! Mas eu
era jovem demais para saber amar."
Mas que quer dizer "efêmera" repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida,
renunciara a uma pergunta que tivesse feito.
— Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".
— Minha flor esta ameaçada de próxima desaparição?
— Sem dúvida.
— Minha flor é efêmera, disse o principezinho, e não tem mais que quatro
espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha!
Foi seu primeiro movimento de remorso. Mas retomou coragem:
— Que me aconselha a visitar? perguntou ele.
— O planeta Terra, respondeu-lhe o geógrafo. Goza de grande reputação...
E o principezinho se foi, pensando na flor.
Sua flor lhe havia contado que ela era a única
de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, igualzinhas, num só jardim!
"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir,
fingiria morrer, para escapar ao ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela;
porque se não, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade...”.
Depois, refletiu ainda: “Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma
rosa comum que eu possuo. Uma rosa e três vulcões que me dão pelo joelho, um dos
quais extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito grande...” E, deitado
na relva, ele chorou.
Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por
exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for
chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada:
descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a
hora de preparar o coração...
Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não
tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil
outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para
mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
— Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que
ela me cativou ...
Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda.
Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa.
Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo.
Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
— Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha
rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é,
porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob
a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas
(exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou
gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
— Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável
pela rosa...
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